domingo, 14 de julho de 2013

A sabedoria de Patañjali e Krishnamurti


Texto de Ravi Ravendra, extraído da revista SOPHIA, julho 2013
*TRANCRITO EM 14/07/2013 POR EVELINE MARA

PRIMEIRA PARTE

Todos os grandes mestres são originais, sem ser necessariamente novos. São originais no verdadeiro sentido da palavra – estão próximos das origens. Cada um deles expressa a verdade segundo seu modo próprio, peculiar. Krishnamurti falou de uma inteligência além do pensamento. Ele insistia em que precisamos ir além do conhecimento. Embora geralmente pensemos no conhecimento como uma coisa boa, Krishnamurti enfatizava que o conhecimento é a fonte de problema, não a fonte de solução. E Patañjali sustentava que os movimentos da mente, inclusive todo o conhecimento, são a fonte do problema. Existe muito em comum entre Patañjali e Krishnamurti, mas cada um expressava seus insights à sua maneira peculiar.
“Yoga é o estabelecimento da mente na tranquilidade” (Sutra 1,2). A tradução literal deste sutra (“yoga é a cessação das atividades da mente”) fala do processo do yoga alcançar o objetivo de “estabelecer a mente a mente na tranquilidade”. A mente de um yogue consumado tem a qualidade do silêncio profundo. Krishnamurti corporificava essa tranquilidade da mente. Certa ocasião eu lhe perguntei: “Qual a natureza da sua mente, Krishnamurti? O que você vê quando olha para uma árvore?” Ele permaneceu em silêncio por algum tempo e depois disse: “Minha mente é como a água num moinho. Qualquer distúrbio que seja criado nela logo desaparece, deixando- a tranquila como antes”. E então como lendo o que eu estava a perguntar, acrescentou com um sorriso: “ E a sua mente, senhor, é como  moinho”.
Os sábios disseram que, quando a mente está silenciosa, sem distrações, o estado original de inteligência ou de consciência, muito além da capacidade da mente pensante, está presente. Essa inteligência mais alinhada à percepção direto que ao pensamento ou ao raciocínio. Há um lembrete de Krishnamurti: “Não pense; olhe”! Isso nos chama para uma percepção da inteligência além do pensamento. Podemos muito bem dizer que o yoga tem como propósito cultivar a visão direta, sem imaginação. O yoga leva à gnose, um conhecimento que e bastante diferente do conhecimento racional. Patañajali prefere chamar o verdadeiro conhecimento de “vidente”.
“Então o vidente está estabelecido em sua natureza essencial” (Sutra 1,3). A natureza essencial, a verdadeira forma do vidente é purusha, o ser transcendente. Purusha é plena atenção sem distrações, energia consciente ou pura percepção. Quando as distrações são removidas, o vidente se estabelece em sua verdadeira natureza. O verdadeiro vidente é aquele que conhece através da mente. O propósito do yoga é refinar a mente, de modo que ela possa servir como um instrumento apropriado para o purusha. Quando surge o pensamento, a mente trás suas expectativas e suas projeções. Então não conseguimos ver a realidade com ela é.
Em certa ocasião, perguntei a Krishnamurti o que ele pensava de algo para o qual estivéramos olhando. Ele disse: “ O senhor K )como ele frequentemente se referia a si próprio) não pensa absolutamente. Ele apenas olha”.
Na tradição indiana, a ênfase tem sempre recaído sobre a visão, mas ela é uma percepção além dos órgãos dos sentidos, uma iluminação além do pensamento, um insight da presença. O verdadeiro conhecedor não é a mente, embora ela possa ser um instrumento apropriado do conhecimento. A mente precisa se livrar das distrações que a ocupam e que não lhe permitem a verdadeira visão.  Os Yoga-Sutras enfatizam a necessidade de aquietar a mente para que possa haver cada vez mais correspondência com a visão clara de purusha. Somente uma mente aquietada consegue ser atender. Somente uma mente aquietada pode ser a morada do purusha em sua forma verdadeira. Existe uma qualidade de atenção e divisão que podem produzir uma ação em nós mesmos e permite que naturalmente ocorra uma mudança radical, a partir do interior.
Patañjali começa com o fato de que a atenção é a principal preocupação do yoga. Por outro lado, o vidente – que está acima da mente – está incorretamente identificado com o instrumento de visão. Plena atenção é a primeira exigência para permitir que o real se revele a nós. O real está sempre se revelando em toda a parte, mas em nosso estado não transformado não estamos aptos a perceber essa revelação. Todos os sábios da humanidade estão de acordo ao dizer que existe um nível de realidade que perpassa todos os espaço, dentro de nós e também fora, que não está sujeito ao tempo. Os sábios chamam-no por vários nomes. No entanto, nós geralmente não estamos em contato com esse nível porque somos distraídos pelo irreal, pelo pessoal e pelo transitório.
Certa vez perguntei a Krishnamurti sobre a natureza a atenção que ele chamava de atenção total. Eu disse que o que descobri em mim é que a atenção o flutua. Ele respondeu: “o que flutua não é atenção. Somente a desatenção flutua”. Podemos partir desse breve diálogo que para, Krishnamurti, atenção era o chão, como purusha, ela não flutua. Minha pergunta levava a crer que a atenção pode ser distraída – uma identificação incorreta do vidente com a mente.


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