terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Experiência Meditativa




“A prática sem sabedoria é cega. A sabedoria sem prática é fútil.” T. Krishnamacharya

A primeira vez que a maioria de nós ouviu a palavra “meditação” foi, provavelmente, a partir do viés indiano ou japonês, alicerçada em tradições como o yoga e o budismo. Porém, se pesquisarmos mais um pouco veremos a meditação sendo usada também em caminhos religiosos como o Judaísmo (método de oração chamado de Hitbodedut, tendo como um dos expoentes o Rabino Nachman) e o Cristianismo (alguns dos religiosos conhecidos que difundiram a meditação cristã são Thomas Merton, Dom John Main, Dom Lawrence Freeman e Jean Yves Leloup) e, de forma não-religiosa, em vários sistemas modernos de exploração da mente e do que é chamado de “autoconhecimento”. A ciência também tem manifestado interesse no assunto e, assim, tem se ocupado de experiências relativas a essa prática. Porém, o limite da ciência é grande no que se refere a essa área. Até a filosofia se apresenta, muitas vezes, bastante resistente a alguns conceitos mais tradicionais dos caminhos meditativos. Daniel Dennett, reconhecido filósofo norte-americano, compara a meditação a vários outros exercícios mentais como a realização de palavras cruzadas e, também, ao sono. Porém, numa perspectiva menos rasa, a meditação é vista, tradicionalmente, como um processo que se diferencia dos outros mecanismos meramente mentais.

Meditação, inicialmente, pode ser vista como um processo de envolvimento da mente com um único objeto. Essa é a porta de entrada. Começamos nos utilizando de uma mente que tem como hábito se relacionar com vários focos num curto espaço de tempo e vamos, aos poucos, direcionando sua atenção a um único objeto previamente escolhido. Da mente que é atraída por uma grande variedade de estímulos sensoriais, passamos a uma mente que toma as rédeas do seu direcionamento e se estabelece no objeto de sua escolha consciente. Da visão apressada e múltipla passamos a uma visão sustentada e única. Eis a base da preparação da capacidade meditativa. Vamos chamar isso de “unidirecionamento horizontal”, onde optamos por proteger a relação com um único ponto de atenção dentre os vários possíveis que se apresentam no mundo à volta. A principal função dessa etapa é criar em nós a condição de conhecer o objeto com o qual nos relacionamos, pois, uma vez que só podemos obter um conhecimento não-superficial de algo a partir de uma relação íntima e de longo prazo, a sustentação da atenção unidirecionada é essencial. Ou seja, em primeiro lugar, precisamos resgatar a capacidade de apreciar um objeto específico por um tempo determinado e a partir de uma escolha consciente. Rubem Alves, em seu texto “Escutatória”, trata dessa apreciação, dessa atenção viva e comprometida. Ele cita, como base de reflexão, a seguinte frase de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Que possamos experimentar o sentido das palavras de Caeiro . A apreciação, a escuta, precisa do tempo e do silêncio para completar a sua função, para que seja sentida, absorvida e, ao fim, nos transforme.
Ainda assim, “unidirecionamento horizontal” não é tudo. Precisaremos realizar, a partir daí, o que podemos chamar de “redirecionamento vertical”, ou seja, nos mover do envolvimento habitual com objetos externos concretos (fruto da superfície mental sensorial) ao envolvimento com objetos cada vez mais profundos, internos e não-evidentes. Para isso passamos da observação do corpo (ou do mundo externo) à observação da respiração, da observação da respiração à observação da mente. É isso que chamamos de interiorização. A preparação para a interiorização consiste em conseguir diminuir minha resposta às distrações e criar intimidade com um único foco (ainda que o foco pertença ao mundo externo), mas, no seu sentido último, interiorização consiste em relacionar-se intimamente com um foco interno. E qual é o foco interno por excelência? O funcionamento da própria mente. É ela que dá nascimento a nossos pensamentos, desejos, escolhas e ações. Sem a sutil contemplação da própria mente não há liberdade verdadeira, pois liberdade se dá, realmente, quando podemos entender as circunstâncias que dão origem à nossa ação. E as circunstâncias que alimentam nossas ações não são apenas externas, o que podemos facilmente comprovar ao olhar a diferente reação de duas pessoas frente a uma mesma situação rotineira. Só podemos exercer liberdade quando olhamos para dentro e entendemos de onde estão nascendo nossas ações. Muitos dos sistemas contemplativos ou meditativos apresentam a noção de que, na maior parte do tempo, somos prisioneiros da ausência desse entendimento. Apesar de, fundamentalmente, agirmos em busca de paz e felicidade ao longo de nossa vida, muitas vezes não é esse o fruto de nossas ações, pois elas, em sua maioria, não nasceram de uma real compreensão desse desejo fundamental que as embasa. Perturbações internas (imediatistas por natureza) acabam por impelir cegamente o movimento externo gerando, muitas vezes, resultados danosos e impedindo a realização da desejada paz. A conclusão a que chegamos é que não há paz possível quando não somos verdadeiramente conscientes de nós mesmos.

Na comparação de Dennett com as palavras cruzadas, por exemplo, perde-se a compreensão de que o objetivo da meditação é reconhecer o funcionamento da própria mente e não apenas usá-la para exercer uma função cotidiana. Meditação, portanto, não pode ser entendida como um mero exercício da mente, mas sim como a própria contemplação da mente em exercício. Realizar palavras cruzadas não me traz conhecimento sobre mim mesmo, sobre como me estruturo internamente. Uma mente mais hábil é uma das conquistas esperadas no treinamento em meditação, e essa conquista pode até ser positiva, mas não é o propósito final. A mente é entendida como um instrumento de percepção do ser humano e, sendo assim, podemos afirmar que há três formas de utilização da mesma (isso é válido para qualquer instrumento): o não-uso, o uso positivo e o uso danoso. Tornar um instrumento mais “afiado” sem gerar clareza e sabedoria não nos coloca, necessariamente, numa posição melhor. Ao mesmo tempo, ter sabedoria sem ter a possibilidade de utilizá-la, devido à limitação do instrumento que está em nossas mãos, não permite que o conhecimento realize seu propósito.



Jorge Luís Knak – Ago/2013

domingo, 14 de julho de 2013

A sabedoria de Patañjali e Krishnamurti


Texto de Ravi Ravendra, extraído da revista SOPHIA, julho 2013
*TRANCRITO EM 14/07/2013 POR EVELINE MARA

PRIMEIRA PARTE

Todos os grandes mestres são originais, sem ser necessariamente novos. São originais no verdadeiro sentido da palavra – estão próximos das origens. Cada um deles expressa a verdade segundo seu modo próprio, peculiar. Krishnamurti falou de uma inteligência além do pensamento. Ele insistia em que precisamos ir além do conhecimento. Embora geralmente pensemos no conhecimento como uma coisa boa, Krishnamurti enfatizava que o conhecimento é a fonte de problema, não a fonte de solução. E Patañjali sustentava que os movimentos da mente, inclusive todo o conhecimento, são a fonte do problema. Existe muito em comum entre Patañjali e Krishnamurti, mas cada um expressava seus insights à sua maneira peculiar.
“Yoga é o estabelecimento da mente na tranquilidade” (Sutra 1,2). A tradução literal deste sutra (“yoga é a cessação das atividades da mente”) fala do processo do yoga alcançar o objetivo de “estabelecer a mente a mente na tranquilidade”. A mente de um yogue consumado tem a qualidade do silêncio profundo. Krishnamurti corporificava essa tranquilidade da mente. Certa ocasião eu lhe perguntei: “Qual a natureza da sua mente, Krishnamurti? O que você vê quando olha para uma árvore?” Ele permaneceu em silêncio por algum tempo e depois disse: “Minha mente é como a água num moinho. Qualquer distúrbio que seja criado nela logo desaparece, deixando- a tranquila como antes”. E então como lendo o que eu estava a perguntar, acrescentou com um sorriso: “ E a sua mente, senhor, é como  moinho”.
Os sábios disseram que, quando a mente está silenciosa, sem distrações, o estado original de inteligência ou de consciência, muito além da capacidade da mente pensante, está presente. Essa inteligência mais alinhada à percepção direto que ao pensamento ou ao raciocínio. Há um lembrete de Krishnamurti: “Não pense; olhe”! Isso nos chama para uma percepção da inteligência além do pensamento. Podemos muito bem dizer que o yoga tem como propósito cultivar a visão direta, sem imaginação. O yoga leva à gnose, um conhecimento que e bastante diferente do conhecimento racional. Patañajali prefere chamar o verdadeiro conhecimento de “vidente”.
“Então o vidente está estabelecido em sua natureza essencial” (Sutra 1,3). A natureza essencial, a verdadeira forma do vidente é purusha, o ser transcendente. Purusha é plena atenção sem distrações, energia consciente ou pura percepção. Quando as distrações são removidas, o vidente se estabelece em sua verdadeira natureza. O verdadeiro vidente é aquele que conhece através da mente. O propósito do yoga é refinar a mente, de modo que ela possa servir como um instrumento apropriado para o purusha. Quando surge o pensamento, a mente trás suas expectativas e suas projeções. Então não conseguimos ver a realidade com ela é.
Em certa ocasião, perguntei a Krishnamurti o que ele pensava de algo para o qual estivéramos olhando. Ele disse: “ O senhor K )como ele frequentemente se referia a si próprio) não pensa absolutamente. Ele apenas olha”.
Na tradição indiana, a ênfase tem sempre recaído sobre a visão, mas ela é uma percepção além dos órgãos dos sentidos, uma iluminação além do pensamento, um insight da presença. O verdadeiro conhecedor não é a mente, embora ela possa ser um instrumento apropriado do conhecimento. A mente precisa se livrar das distrações que a ocupam e que não lhe permitem a verdadeira visão.  Os Yoga-Sutras enfatizam a necessidade de aquietar a mente para que possa haver cada vez mais correspondência com a visão clara de purusha. Somente uma mente aquietada consegue ser atender. Somente uma mente aquietada pode ser a morada do purusha em sua forma verdadeira. Existe uma qualidade de atenção e divisão que podem produzir uma ação em nós mesmos e permite que naturalmente ocorra uma mudança radical, a partir do interior.
Patañjali começa com o fato de que a atenção é a principal preocupação do yoga. Por outro lado, o vidente – que está acima da mente – está incorretamente identificado com o instrumento de visão. Plena atenção é a primeira exigência para permitir que o real se revele a nós. O real está sempre se revelando em toda a parte, mas em nosso estado não transformado não estamos aptos a perceber essa revelação. Todos os sábios da humanidade estão de acordo ao dizer que existe um nível de realidade que perpassa todos os espaço, dentro de nós e também fora, que não está sujeito ao tempo. Os sábios chamam-no por vários nomes. No entanto, nós geralmente não estamos em contato com esse nível porque somos distraídos pelo irreal, pelo pessoal e pelo transitório.
Certa vez perguntei a Krishnamurti sobre a natureza a atenção que ele chamava de atenção total. Eu disse que o que descobri em mim é que a atenção o flutua. Ele respondeu: “o que flutua não é atenção. Somente a desatenção flutua”. Podemos partir desse breve diálogo que para, Krishnamurti, atenção era o chão, como purusha, ela não flutua. Minha pergunta levava a crer que a atenção pode ser distraída – uma identificação incorreta do vidente com a mente.


terça-feira, 9 de julho de 2013


Meditar, um bom começo para ser feliz

É complicado falar sobre meditação. É complicado pois a meditação não se fala. Na meditação as palavras não encontram pousada, ou melhor, a meditação é um pousar sobre as palavras, sobre voa-las, mergulhar na origem do verbo, o silêncio.
Meditar é simplismente não fazer nada e também é não deixar de fazer.
Confundimos meditar com refletir. O primeiro é o estágio de quietue da mente o segundo é o processo de cognição mental acerca de um assunto.
A meditação também não é concentração. Para meditar precisamos nos concentrar, mas não para aí.
A concentração é o extremo foco. É a eliminação de possibilidades até chegar em um ponto. Os cientistas fazem muito isso para saber sobre determinado estudo, vão afulinando, afunilando.
A meditação também não é contemplação. É um pouco menos.
Na contemplação apanas admiramos o que acontece, sem nenhum foco.
Então a meditação é algo entre a concentração e a contemplação.

Um aspecto importante de meditar é que não meditamos sobre algo. Não existe um objeto para meditar (pode existir, mas aí é mais concentração), nós somos a meditação.

A meditação é uma prática de interiorização profunda. Não posso dizer meditar sobre mim mesmo, porque isso deduz que há um eu sendo o sujeito da meditação e outro eu o objeto da meditação.

A meditação deve ser algo completamente natural e ao mesmo tempo querida, intencionada...
Para meditar basta uma posição confortável.
Há várias posições, principalmente praticada pelos yogues, que nos ajudam muito na meditação.

Na meditação também não existe objetivo, além de meditar...

Uma dica para começar a meditar é pela concentração na respiração.
Contanto de 100 até 0.
A mente vai divagar por vários momentos, quando isso ocorrer volte a atenção para a contagem. Se esquecer retorne do começo.

A meditação nos dá uma noção de como é o funcionamento da nossa mente.
Um mecanismo complexo, sempre relacionando e bucando referências.

Assim, uma prática legal é concentrar-se também em palavras positivas (harmonia, paz, amor,etc), repeti-las em cada inspiração.

Após certo tempo praticando meditação pude disciplinar minha mente, ter controle sobre meus pensamentos.
A meditação é como um exercício de purificação. Assim, como antes de cozinhar nós escolhemos feijão por feijão, depois de meditar vemos a importancia de escolher pensamentos que desejamos "cozinhar"na nossa cabeça!

Livros recomendados

Como silenciar a mente - Osho
Os estágios da meditação - Dalai Lama

Discípula do coração

Esses dias eu estava conversando com uma amiga, e falávamos sobre disciplina. Essa simples palavra pode deixar pessoas de cabelo em pé, principalmente aquelas que como eu, ouviram essa sair em gritos da boca ofegante da professora na quarta série.
Na minha adolescência, disciplina era coisa de gente opressora, coisa de militar, religião ou de cdf.
Hoje, eu entendo o que a professora queria me dizer. Ela simplesmente estava pedindo que nós nos dedicássemos ao que ela estava nos ensinando, e que estivéssemos atentos.
Disciplina é algo simples, porém por experiências como essa, pode se tornar um pesadelo, algo difícil.
Foi procurando algumas repostas para a vida, e um estilo de vida saudável que comecei a estudar a filosofia oriental, e conheci a meditação e com ela sua fiel companheira, a disciplina.
Disciplina vem de discípulo. Talvez na quarta série eu tenha sido uma má discípula.
Mas, tirando todo o peso que a palavra possa ter a primeira vista, a disciplina é uma ótima amiga, para levarmos conosco quando desejamos aquela paz interior, principalmente em tempos hostis.
A disciplina nada mais é que a escolha diária, a escolha de ter certas atitudes, e não ter certas atitudes. Bem simples.
Escolher não comer carne, escolher andar de bike, não escolher fumar cigarro, escolher a paciência, não escolher julgar, escolher amar. Quando conheci a disciplina e resolvi ser amiga dela, imaginava que em longo prazo ela me levaria à felicidade eterna, algum tipo de salvação, e toda vez que me sentia triste ou irritada, acabava a culpando. E aquilo, me deixava ainda mais triste, então, novamente eu ia até ela, pedindo as pazes. E ela sempre me aceita de volta.
Percebi que ter a disciplina como amiga é algo muito especial, e é essa confiança nela que faz com que eu experimente algo que pra mim é sagrado. Quando escolho, sou discípula da minha própria vontade, discípula do meu coração.
A disciplina não é algo que vai nos levar pra algum lugar, a disciplina é o destino, é nosso poder de escolha aqui e agora, a escolha de estar em paz.
Hoje, quando penso nisso, dou risada, pois há algum tempo dizer pra mim que disciplina é liberdade era como dizer que a guerra é paz. Mas, para conhecer de perto a disciplina só sendo amiga dela, experimentando-a, escolhendo escolher.